O CHORO QUE VEM ANTES DA RESSURREIÇÃO


Jesus chorou um pouco antes de ressuscitar a Lázaro. Parece contraditório, saber que vai tirar o amigo da morte, porém, a despeito disso, chorar...e chorar com certa indignação como sugere a palavra grega usada.

Você vê o futuro melhor, mas assim mesmo chora diante do imediato. É assim a alma dos filhos dos homens, na melhor perspectiva.

Estranho é pensar que Deus é; que Nele tudo é está acontecendo; e que ainda assim Ele sente com humores do tempo, e se emociona com a vida, e se encanta e assusta com a fé dos seres insuspeitos de religião, como o centurião e a siro-fenícia do Evangelho.

Deus se espanta e Deus chora...

Deus é, mas não é zen!

Assim, diante da tumba onde a ressurreição venceria a morte, fazendo dela apenas um sono a ser interrompido pela voz de Jesus, o choro doído teve o seu lugar.

Essa é a síntese que busco para mim como pai enlutado, em Cristo. Estar enlutado em Cristo é completamente diferente de estar enlutado sem Cristo. Você vê a eternidade; você sabe que é mergulho no entendimento pleno; que é luz eterna, que é gozo, que é amor absoluto. Você sabe o que é; você mesmo está ansioso para estar lá; porém, a despeito disso tudo, você chora ante a ressurreição.

Que conforto humano e divino eu tenho Neste que chora ante a ressurreição, que não deixa o milagre o tornar menos humano, e nem permite que a divindade lhe roube a fraqueza.

Sim, que alegria é vê-lo chorar com você, quando você mesmo já vê a ressurreição. Ele chora com você e se alegra com aquele por quem você chora.

É isso mesmo: Ele não priva você de chorar também a dor do hoje, desse imediato real. Sim, desse imediato que hoje, para mim, significa muita dor; e mesmo tentando continuar fazer tudo como sempre, e dando o meu melhor; às vezes seguindo todos os caminhos da normalidade emocional; porém, o tempo todo com aquele olhar que vê meu filho “ressuscitado” em Cristo, vivo Nele, em gozo e glória; embora não deixe de sentir também nem por um instante aquela forte e poderosamente fina e surda dor, e que hoje habita a base de meu sentir em-si...ou seja: em mim-mesmo.

“Eu vim buscar teu filho; foi por isto que Ele morreu”; seria uma forma inversa de dizer: ”Nosso amigo Lázaro morreu; mas eu vou para despertá-lo”.

Mesmo assim, Jesus chorou; e eu, que posso fazer? Posso não me derramar de chorar também?

Ah, Deus sabe que não posso; posso evitar o assunto; mas não posso deixar de levar o seu sentir...

A gente olha para o céu e vê muitas estrelas que nos iluminam com a luz de seu passado, visto que já não existem. Sua luz, porém, ainda cintila diante dos nosso olhos, embora tudo não passe de uma estrada de luz, e que está terminando, que vem se encolhendo, se enrolando, até que a última parte dela chegue como último ponto de luz...aos nossos olhos.

Nós, no entanto, fazemos poesia para o que ainda aparece, mas já não é. Em Cristo, eu faço poesia para quem aqui já não é, pois se foi...embora agora mesmo é que ele tenha se tornado...

Assim, choro pelo que já não é, apenas porque se tornou. E me alegro pelo que ele se tornou, apenas porque choro quem ele aqui já não é.

Jesus chorou antes da ressurreição.

Obrigado, Jesus!


Caio

Comentários

  1. Que lindo, me tocou profundamente.

    Um beijo, bem-vinda ao meu blog, vou acompanhar o teu também.

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