Desmascarar-se não é uma derrota



A figueira tinha boa aparência, mas se limitava a isso. Não possuía frutos, portanto, irrelevante de certa forma, pelo menos para alguém que quisesse saciar sua fome. O episódio da figueira pode nos ensinar muitas coisas como, por exemplo, o poder da fé confiante em Deus, mas em mim, ficou a impressão de haver algo mais nessa coisa toda de “figueira bonita, porém, vazia”.

Talvez ali esteja presente aquela velha história de que beleza não põe mesa. E realmente é assim, no entanto, a maioria das pessoas parece nutrir certa admiração pelas aparências. Mesmo aquele que rejeita ideias e padrões impostos, e opta por viver conforme seus próprios conceitos, vez ou outra se surpreende com a possibilidade de ser superficial com os outros e consigo mesmo.

Ora, que graça tem viver apenas de aparências? Não seria o mesmo que viver de forma reprimida?Todos os dias ao nosso redor pessoas escolhem sufocar o desejo de ser o que são em essência, às vezes por pura vontade de se enquadrar a determinado ambiente/grupo. Por algum tempo vivi assim, e não sei se já aconteceu com todo mundo, mas acho extremamente cansativo. Além de não haver plena satisfação, os relacionamentos não possuem qualquer profundidade, pois não há uma “verdade inteira”, ou seja, um dos lados está mascarado, portanto, nesse sentido, não existe muita sinceridade por parte de quem se limita a ser o que os outros querem/esperam.

Só se sente completo quem é livre para exercer sua pessoalidade sem medo de uma possível rejeição por parte dos outros. Ser outro alguém é uma espécie de prisão! E nela há impossibilidade de ser importante para alguém, e é aí que entra a historinha da figueira. Todos nós de alguma forma temos a capacidade de produzir “frutos bons”, e através deles, nos tornamos relevantes na vida de alguém ao ponto de “saciar sua fome”. Quantas coisas boas podemos fazer a alguém pelo simples fato de existirmos em suas vidas... Mas se há algum tipo de maquiagem, e se existem apenas “folhas”, como alguém poderá ser afetado de forma positiva com a nossa presença? Como dar fruto se não existe raiz em si mesmo? É possível sendo “outra pessoa”, dar o melhor de si para os outros?

Uma das grandes propostas de Jesus foi a liberdade de sermos nós mesmos. Podemos observar isso quando por várias vezes a hipocrisia religiosa foi criticada por Ele. Além disso, sempre me pareceu bastante interessante a forma como as pessoas tidas como pecadoras e pouco dignas se portavam perante a presença Dele. Nunca as vi pouco a vontade, ao contrário, volta e meia, Jesus estava sendo convidado para um banquete, talvez por isso a fama de comilão, beberrão e amigo de pecadores...

Jesus seguia seu caminho sendo profundo, inteiro e verdadeiro. Verdadeiro com os outros e sobre tudo com Ele mesmo. Cristo entendia que essa é a vontade do Pai para todos nós, e a deixou como modelo. Optar por desmascarar-se é uma grande virtude. Mesmo que a verdadeira face não seja das mais “bonitas”, o que vale é a vontade de ser de verdade.


12 No dia seguinte, depois de saírem de Betânia teve fome,

13 e avistando de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se, porventura, acharia nela alguma coisa; e chegando a ela, nada achou senão folhas, porque não era tempo de figos.

14 E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E seus discípulos ouviram isso.

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